Os dias passam sem grande novidade, a rotina toma conta dos gestos, mecanicamente se repetem os mesmos hábitos, os mesmos passos, os mesmos compromissos, as mesmas tarefas. Os lugares tornam-se expressão do repetido, as conversas tornam-se eco a repicar: o mesmo, o mesmo, o mesmo…
Nem sempre isto se percebe. Talvez porque a rotina também seja conforto, talvez porque o ritmo repetido entorpeça os sentidos. E mesmo quando se percebe, há sempre a hipótese de não se saber reagir, não se querer reagir, não se achar que seja necessária reação ou que a mesma não seja possível: Somos como somos, o Mundo é como é nada é perfeito mas é, pelo menos suportável: respiramos. Sobreviver é manter-se…
Viver é mais do que isso. É consumir a vida. É colocar côr. É estar desperto para o Mundo é deixar-se maravilhar com a novidade e provocar . É aprender todos os dias, humanizar-se, tornar-se mais pessoa. É rir, chorar, sentir, deixar que o mundo nos acerte, ainda que isso possa trazer dias mais difíceis. É é enfrentar, é assumir o que se é, afirmar o que se acredita!
Na prática, sobreviver é um ato mecânico, nasce-se programado para isso, ou, pelo menos, uma ação não libertadora e, por defeito, pouco construtiva. Viver, pelo contrário, não é um mero ato biológico, implica entrar em cena, não basta assistir à ação. Viver implica não se auto-poupar, sob pena de, no final da vida, ao olhar para trás se perceber que a poupança própria foi tanta que não se chegou a viver!
O cego Bartimeu do Evangelho deste domingo percebeu isso mesmo, viver não é ficar à beira do caminho, na escuridão, na expectativa, na limitação, na depêndencia. Viver é erguer a voz, evoluir, ultrapassar debilidades, mesmo quando a situação que nos envolve nos procura calar ou manietar.
P.e Rui Barnabé